Enfim.
Minha mãe teve linfoma de novo, sim. Foi difícil pra descobrir a causa de tantas dores que ela sentia, muitas idas a médicos, correria até o diagnóstico. Me lembro que era a época de jogos da copa do mundo e não assistimos um jogo tranquilas por que ela estava mal ou tínhamos que sair com ela para o hospital.
Fez quimioterapia tudo ok até então. Poucas reações.
Depois da quimioterapia veio o auto transplante de medula. Aconteceu muita coisa, vou poupar aqui.
Nesse meio tempo um namoro acabou também. Pronto agora tinha que ser forte sozinha mesmo.
Enquanto mamãe estava internada vi coisas no hospital que me marcaram profundamente. Uma delas foi quando uma mulher faleceu no quarto ao lado.
Estava com minha mãe e ouvimos o choro desesperado de uma menina que tinha aproximadamente 15 anos, abrimos a porta do quarto e vi um homem com lágrimas nos olhos que passou na frente do nosso quarto, olhou nos olhos da minha mãe com quem ele ja tinha conversado algumas vezes e disse : "Acabou." Estava confirmado que sua esposa acabara de falecer. Foi horrível presenciar aquilo, a menina chorando e pensei, que horror que essa menina ta passando eu não sei se aguentaria uma coisa dessas meu Deus, o que ia ser daquela menina?
Uns meses se passaram e minha mãe começou a piorar depois do transplante, teve que ir pela UTI pela primeira vez, foi um choque! Sedaram ela e foi muito doloroso visita-la la e ver ela naquele estado, estava irreconhecível, e os médicos diziam que as chances dela eram mínimas... ela teve pneumonia, pegou uma infecção por bactéria e teve um avc nesse tempo.
Foram uns 3 meses de dor e agonia, confusão mental, dor, tudo misturado.
Nesse tempo fiz amizades com acompanhantes de outros pacientes, fiz amizades bacanas, era bom conversar com quem passava por situação semelhante, trocar palavras de conforto e etc.
Depois de uns 3 meses e muitas orações ela volta a reagir, volta a acordar, que alegria, que alegria, era maravilhoso. ela estava com traqueostomia e não podia falar, mais quando ela escreveu pela primeira vez foi emocionante! e nos comunicávamos assim. Tenho guardado os papéis com os escritos dela.. Ela escrevia algumas coisas nada a ver estava com a cabeça confusa e com delirios mais estávamos felizes por ela estar acordada e se comunicando! Depois foi retirada a traqueostomia e ela voltou a falar que alegria, ela sempre foi muito faladeira, foi muito bom.
Ela perdeu muita massa muscular, suas condição física já não era a mesma, ela estava frágil e seus rins tb não eram os mesmos o que resultou numa Insuficiência Renal Cronica , ou seja, ela teria que fazer hemodiálise 2 ou 3 vezes por semana pelo resto da vida provavelmente...
Isso chateou muito a ela e a nós, porém.. vamos lá.
O dia mais feliz de todos
Ela recebeu alta do hospital e continuou o tratamento em casa e hemodialises de 2 ou 3 vezes por semana. Dava até pra gente viajar (Porem sempre marcando hemodiálises com antecedência nos hospitais de outras cidades)
Tivemos aproximadamente um ano "de boa" com hemodiálise, com cuidados com ela mais ela conseguia andar até com ajuda da bengala. Foi tempo de muuuito amor e dedicação a ela. Dias preciosos.
Em 2012 aproximadamente ela começou a sentir dores similares a de antes..Pronto era Linfoma de novo. DE NOVO. ou seja. A droga do transplante não deu certo. Meu Deus
Nesses dias estávamos nos aprontando para ir pra uma sessão de hemodiálise e conversando com ela percebi que ela estava tendo uma crise convulsiva. Pronto , ligamos para o seu médico ela se internou para exames.
Foto do dia da internação, ela estava "bem", lucida e gostava de jogar um joguinho semelhante ao candycrush no tablet..era muito bonitinho ela jogando <3
Até então dava a entender que aquelas convulsões eram reação normais dos medicamentos que ela tomava.
Ela tinha crises convulsivas de vez em quando e o que me impressionava era que ela mantia a calma. Dizia para não nos assustarmos que aquilo ia passar, durava poucos minutos.
Durante uma internação para exames eu estava indo fumar e o médico me chamou no postinho, mostrou os exames dela do cérebro e resumindo o que ele disse nessas palavras: - "Olha o cérebro dela, está parecendo um queijo suiço, isso são sequelas do que ela passou anteriormente, agora está vendo isso aqui? É muito sugestivo de linfoma. ". Naquele momento senti o chão se abrindo, uma tontura um soco na boca do estômago.
Tentei manter a calma, queria ligar pro meu pai, chorar falar pra alguem, chorar. Mais pra pegar meu óculos escuro e meu celular tinha que entrar no quarto pra pegar e não queria olhar pro rosto dela, não ainda...
Mais entrei no quarto, tentei não olhar pra ela que estava assistindo TV e ela imediatatemte perguntou como se soubesse que eu estava escondendo algo :
- O que está acontecendo???
Olhei pra ela, não conseguia falar e cai no choro. Ela ficou sem entender mais penso que ela ja tinha alguma idéia e ela me dizia com a maior paciencia e um olhar caridoso:
: Pode falar, me fala..
Dai só chorando consegui dizer : O Dr Cristiano acha que é linfoma no cérebro tb mãe!
Ela segurou minha mão e disse :- Calma minha boneca, fica fria! Fica fria, a gente sabia que isso podia acontecer d enovo. Fica calma!!! Eu vou tratar! Eu vou cuidar disso, fica tranquila.
(Essa foi uma das cenas mais marcantes da minha vida) a tranquilidade que ela em falava, ela não demonstrou um pingo de medo, pelo contrário estava preocupada com que eu ficasse tranquila, meu Deus.
Ela quem me tranquilizava no final das contas... mesmo no hospital sempre de bom humor, linda, falante uma gracinha... Essa foto foi no outro dia do diagnostico se não me engano, dá pra ver pelo seu rosto que ela nao aparentava preocupação.
Quando tudo começou a piorar.
Recebido o diagnósttico do suposto linfoma no cérebro mamãe foi submetida a radioterapia e a tomar anticonculsivos, que deixavam ela meia "grogue". Dizem que ela ficava grogue e variando por causa dos linfomas mais eu tenho na minha cabeça que era por causa do maldito remédio, Enfim.
Dai ela só foi ficando cada vez mais grogue e variava tanto que o médico dela ficou assustado e mandou ela pra UTI :(. Até então ficamos arrasados mais pensamos.. minha mãe é forte, uma sobrevivente, sobreviveu ano passado a um avc, infecção hospitalar e tanta coisa, ela vai sair dessa, minha mãe é uma heroína e "imortal" por assim dizer.
Estávamos planejando fazer uma festa no seu aniversário, tinhamos esperança que ela podia sair da Uti e darem alta pra ela, mais infelizmente seu aniversário foi na UTI mesmo e tivemos o privilégio de vistar ela "acordada".
Foto do dia do aniversário e última foto dela:
Uns dias depois sedaram ela.. e ela foi só piorando, até que chegou um dia que o médico disse pro meu pai que no caso dela "Já não tinha jeito e que ela não ia resistir" e que era questão de DIAS...
Isso me chocou ´profundamente e não vou mais escrever detalhes pq dói muito. Mais no fundo tínhamos esperança na cura dela afinal era minha mãe, a pessoa mais forte e guerreira que conheci.
Passaram se aproximadamente uma longa e agonizante semana para mim e nossos familiares e durante uma manha meu pai me liga chorando e disse : - Aconteceu.
Pronto . Meu mundo acabou e não lembro muita coisa desde então a não ser pessoas na minha casa, falavam coisas e eu não compreendia, minha cabeça ficou totalmente "out" e na época não achei outra saída a não ser beber, bebia escondida, bebia , para fugir era a unica coisa que conseguia, beber e fumar um cigarro atrás do outro, mesmo assim mantive minha sanidade. Consegui abrir seu guarda roupa para escolher sua ultima peça de roupa.
Vou poupar detalhes do funeral em São Paulo por que embora me dizem que foi muito bonito com homenagens merecidas meu coração estava estraçalhado.
Como se não bastasse um velório, meu pai decidiu que iria sepultá-la em outra cidadé onde ela passou parte da infância e se encontrava parte de sua família e amigos.
Outro velório em outra cidade, que viagem longa e dolorosa. Chegando naquela cidade foi mais horrivel ainda, tudo lembrava ela...e entrar lá sem ela ...
O tempo passou e aconteceu, pensei que não ia aguentar ver seu corpo sendo sepultado mais não sei como consegui ir até o final.
Uma boa parte de mim foi enterrada naquela sepultura. Aquele lugar foi o fim de muitos planos e sonhos. Nossa vida tinha mudado radicalmente e tristemente.
Não tinha idéia do sue seria de nós.
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